quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Eu Amo


"É interessante o amor..."

Comecei a te amar há poucos dias.
E tu, já me amas também?
Sonhei que éramos duas rolinhas
que se beijavam com ternura.
E um mancebo, que olhava para nós,
disse: Eles se amam!
E uma menina murmurou apenas:
São felizes!

Serei eu o teu amor?
Não sei... talvez.
E a quem tu amas?
Serei eu?

É interessante o amor
que faz transbordar de glória
e entusiasmo a alma
do amante.

Acreis, 15/03/2012, Madureira/RJ

terça-feira, 28 de agosto de 2012

ENTREGUE A SEU AMOR




                                  "Eu não a odeio, visto que a amo,"


 Fui entregue, assim, a seu amor, sem conhecê-la.
Você comeu a minha pele e minha carne, e quebrou meus ossos.
Mas eu sou aquele que sabe sofrer
Porque sempre morei na escuridão,
Porque sempre fui amigo da morte.
E o que você faz é violentar-me com seus beijos,
Seu corpo perfeito de Virgem de Lorena,
Praticando pecados imperdoáveis,
Fazendo-me amá-la sujo de sangue,
Manchando minha alma de vermelho.

Eu não a odeio, visto que a amo,
Mas a condeno por amar-me,
Pois sempre me derruba e me esmaga,
Castigando-me para que não me afaste,
E não consigo ir, mesmo que assim queira,
Porque seus braços apontam as minhas faltas,
Porque você sabe o que fui.

Então expulsa logo do meu corpo o demônio do seu amor!
Faz-me amá-la como amo a mim!
E eu agradecerei por toda a minha vida
Toda a vez que vier me amar.


Acreis, 25/11/2010, Madureira/RJ.
Para Iolanda, avec amour.

domingo, 26 de agosto de 2012

Elis Regina Querelas do Brasil 1978



citações de Federico Garcia Lorca

"Todas as coisas têm o seu mistério, e a poesia é o mistério de todas as coisas."

"A poesia não quer adeptos, quer amantes."

"A poesia é a união de duas palavras que nunca se supôs que se pudessem juntar e que formam uma espécie de mistério."

"A poesia é algo que anda pela rua."

"A criação poética é um mistério indecifrável, como o mistério do nascimento do homem. Ouvem-se vozes, não se sabe de onde, e é inútil preocuparmo-nos em saber de onde vêm."


Federico LorcaFederico García LorcaEspanha1898 // 1936Poeta/Dramaturgo

sábado, 25 de agosto de 2012

'O Iconoclasta' é uma boa pedida para quem quer pensar 'fora da caixinha'

REFLEXÕES SOBRE ALGO


"quem descreve algo deve despir-se das vicissitudes..."

A autêntica imagem do que era uma exceção 
vincula-se sob suspeita.

Tenho por costume ilustrar a existência do que é efêmero,
Não de tudo que existe, 

mas daquilo se  expressa como virtude.

Se eu negasse o caráter afetuoso de qualquer encanto, seria o pioneiro nessa arte.
Mas há, sempre, algo de digno na prudência,

em qualquer época,

Nas evocações das almas, 
nas incorporações das personagens,
 ou em simples gestos.
Sobremaneira, o que procuro aprimorar 
é o teor do que é valioso, 
como o clima de uma cena,
A forma como se escreve coisas íntimas, 
prestigiando o que não foi estimado,

Superando o que ainda não foi imaginado nem sabido.
Sempre, com vigor incomum, 

quem descreve algo deve despir-se das vicissitudes,
Transitando entre o verossímil e o encantado,
Desconhecendo o que sabe, 
ousando encantar-se, 
sem magoar o que se manifesta.
Não há fórmulas. 

O que há é a imorredoura paixão, esplêndida, 
presente sempre que é chamada,
Sem qualquer insistência, 
avaliando o momento do afeto, somente.
Tem ainda os rituais, 
de maneira tal que, 
agraciados, tornam-se verdadeiros,

Para revelarem vínculos sentimentais,
Incorporados a encantamentos.
Há diversas razões para se buscar o deleite:
Afugentar o que não se conduz, 

de fato;
 desfrutar o adequado 
e adequar-se ao estimado.


Acreis, 21/11/2010."

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O Florista

                       "Por toda parte, flores..."


Por toda parte, flores.
Ramos de lilases, delfínios,
ervilhas-de-cheiro e cravos aos montões.
Íris e rosas também.

O florista aspira o suave aroma do jardim.
O mundo torna-se agora perfeitamente silencioso
e um bando de beija-flores cruza o céu,
e os sinos batem doze vezes.

Negros guarda-sóis abrigam o florista,
que traz nas mãos seu caderno de orações,
e a esquisita sensação de estar invisível.

A imagem da límpida aurora no campo
estampa-se em livro aberto,
mostrando que é muito perigoso viver.

Sem a antiga amargura, ele, o florista,
relembra a cena do jardim,
onde passeia com uma frecha cravada no coração.

Havia nele algo de pássaro,
azul-verde, leve, vivaz.
Às voltas com suas coisas
o florista vai à ópera,
onde ele próprio compra as suas flores.



Acreis, Sta Cruz/RJ 14/04/2011

Fito Páez - Construcción (Chico Buarque) en vivo

domingo, 19 de agosto de 2012

Elvis Presley - Aloha from Hawaii 1973

Perde e ganha (Ferreira Gullar )



Vida tenho uma só
        que se gasta com a sola de meu sapato
        a cada passo pelas ruas
        e não dá meia-sola.

Perdi-a já
em parte
num poquer solitário,
mas a ganhei de novo
para um jogo comum.

E neste jogo a jogo
inteiro, a cada lance,
que a vida ou se perde ou se ganha com os demais
e assim se vive
que é a mais pura perda.

Ferreira Gullar

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Despertar das horas


"em forma de desenhos,Profundamente desnuda"


De que maneira reivindicarei teus beijos,
Se a prudência afastou-se de mim por razões diversas?
Atribuo a mim mesmo o fracasso...
É verdade!
Eu, que era por ti estimado,
Tombei, vítima de não sei quais vicissitudes,
Pois, tantas que foram,
Não me foi possível a acuidade.
Suporto agora a dura distância,
Tentando reformular o que já não posso,
Reunindo costumes que já não são meus,
Direcionando para o invisível as águas barrentas das madrugadas.
Logo tu, que fostes para mim o oposto do medo,
Que me ensinavas que, embora tarde,
O barco sempre deve chegar ao cais.
A tua figura ainda mora em meu corpo.
A tua imagem afugenta a minha tristeza.
Lentamente as horas se vão
No manuseio das páginas escritas,
Mas sem espaços para as feridas ainda indiferentes.
Tuas idéias habitam a minha amargura,
Afogadas nas paisagens desses versos.
Toda a tua ternura ainda mora comigo,
Segura e em silêncio,
Escondida nas cartas, em forma de desenhos,
Profundamente desnuda
.

Acreis, 20/11/2010, Santa Cruz/RJ

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Nunca Se Arrependerá De Importante Passo


        " Pouco leva a lhe pedir casar-se comigo!"

Ainda sou seu velho protetor
Seu bom tipo!
Professor que chega à hora do amor

Estou sempre limpo e preparado
Caprichoso no asseio do corpo
Sempre com sorriso de domingo!

Nunca lhe pedi meus livros de volta
E nem que me restituísse as cartas que lhe erscrevi
A minha foto tirada na praça com boina de militar!

Sou amigo de seu pai
E seus familiares os trato muito bem!
(Ando melhorando de fortuna...)

Pouco leva a lhe pedir casar-se comigo!

Acreis, 11/04/2012, Sta Cruz/RJ
Para Iolanda, outra vez.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

NÓS DOIS


"Na verdade, tudo foi espiado pela fechadura..."


  Não te afastes na noite,
pois preciso dar-te duas palavras.
A lua que se vê ali
disse que sabe de tudo
e não adianta fechar a porta
nem por dentro nem por fora.
Na verdade, tudo foi espiado
pela fechadura,
embora a toalha tenha ficado pendurada na chave.
Não podes negar. Eu te vi sair e voltar.
Acordei mais cedo que nos outros dias
e tinha um forte abraço para te dar,
mas tu ,ligeira desaparecestes,
deixando as cortinas cerradas,
deixando-me embeiçado,
sem ânimo p'ra qualquer coisa.
Então, o que esperas?
Não há nada a fazer...
Eu vejo só dois partidos a tomar:
ficar lamentando a tua partida
ou beber o último trago do copo.
Mas desisto de tudo
e vou p'ra debaixo dos lençóis
enquanto ainda tu dor
mes.

Acreis, 12/12/2010, Sta Cruz/RJ

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Rosa de Hiroshima | Vinicius de Moraes

=====================================
 Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O valioso tempo dos maduros

   
Mário de Andrade

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.


Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Noite


                                         " e outra vez a beijo de forma mais platônica "  

Enxugo suas lágrimas com minhas mãos livres
e repouso sua face no meu colo.
Murmuro palavras suaves no seu ouvido
e beijo seus olhos.
A noite segue agitada, excessivamente agitada para uma noite.
Pequenos feixes de luz eclodem na escuridão sobre nossos rostos.
Seu frágil coração se parte em milhões de pedaços,
mas caço cada um deles e os coloco na minha boca.
Novamente um estrondo.
Nenhum de nós nada falou,
apenas nos abraçamos apertadamente,
e outra vez a beijo de forma mais platônica.


Acreis

Centro, 28/05/12, para Iolanda, com amor.

domingo, 5 de agosto de 2012

As Cores do Amor


                                               "Sempre beijo o canto da sua boca ..."

Banho-a com vinho,
Cubro-a de jóias,
Visto-a com sedas.

Alpinista, subo com a língua
O seu corpo
E falo em seu ouvido
Palavras deveras obscuras.

Em um nicho de ternura
Abraço todo o seu corpo
Antes do pôr-do-sol
De sua infância
E lhe recito versos
Poeticamente supersticiosos.

Para tê-la comigo
Rodaria o mundo
Vendendo perfumes,
De barco ou de bicicleta,
Somente para tê-la comigo.

Esqueço das minhas várias
Amizades femininas,
Fotografias, pérolas...
Tudo deixei na penumbra
De minha alma.

No tocante ao amor
Não tenho ninguém
A quem pedir conselhos,
Um rosto amado a recorrer.
Nada.

Juntos, quando a olhar o céu,
Falamos da pluralidade
Dos mundos habitados
E sobre nós se abate
Uma paixão louca, desesperada,
À noite, em seu jardim:
Paradoxismo do desejo!

Temos breves sessões
De ávidas carícias
E tentamos,
Em vão,
Analisar nossas ânsias,
Atos e motivos,
Sonhando os mesmos sonhos,
Lembrando cartas de baralho.

Sempre beijo o canto da sua boca
E mordo os lóbulos de suas orelhas em fogo.
Uma penca de estrelas
Nos ilumina nesta noite
E bebemos a mesma poção misteriosa,
Que passa por nossos corações,
Gargantas e tripas.

Acreis, 12/05/2012, Centro/RJ
Para Iolanda, avec amour.

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